A sociedade em que vivemos tem-se desviado dos padrões que Deus lhe deu, e tal começa exatamente na família. Temos vindo a assistir ao aumento do individualismo, o qual tem conduzido a desestruturação familiar. Assistimos cada vez a mais casamentos destruídos e as crianças continuam a fazer os seus percursos rumo à vida adulta, com os exemplos que lhes vão sendo dados. Fica uma questão: Será realmente preponderante a união do casal, na educação dos filhos?

Em Gén. 2 assistimos ao nascimento do conceito de família, começando com um casal: um homem e uma mulher. Aqui são estabelecidos alguns princípios preciosos, princípios esses que devem ser mantidos em todas as situações, também e principalmente no exercício do papel de pais: Vejamos o vers. 18:" Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.”

Vamos observar este versículo com a atenção que nos merece e perceber alguns princípios estabelecidos por Deus para o Casamento, estendendo-se à educação dos filhos:

Principio 1 – Intimidade e Comunicação (Quebra de solidão): “Não é bom que o homem esteja só”- esta foi a primeira constatação de Deus, antes de criar uma companheira para o homem. Assim, apesar de todos os dias se encontrar com Adão, Deus considerou que ele necessitava de alguém com quem pudesse ter uma intimidade profunda, ao ponto de quebrar o sentimento de solidão. Para que a solidão não exista, não basta termos alguém ao nosso lado, mas temos de nos sentir acompanhados. Por isso é tão importante a comunhão, nas suas várias formas. O diálogo é essencial num casal, porque é o que permite maior conhecimento das ideias, receios, sonhos de cada um. Para que um esteja realmente com o outro, tem de haver diálogo; para que não haja receio de ser quem se é, e para que se aceitem mutuamente, este diálogo, em conjunto com tantas outras formas de comunicação, levarão à tão imprescindível intimidade. O vers. 22 vem completar a compreensão deste conceito: “E ambos estavam nus, o homem a sua mulher; e não se envergonhavam.” - Isto significa que homem e mulher, no casamento, relacionam-se sem tabus, sem vergonha, numa intimidade que os deixa à vontade um com o outro. 

Algo também importante está expresso em Amós 3:3: “ Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” Na verdade, o casamento é contraído por duas pessoas distintas, com pensamentos, experiências de vida e formas de a ver, diferentes. Se essas pessoas querem realmente “andar juntas” (andar no caminho da vida juntas é aquilo a que se propõe quem casa), precisam chegar a acordo. Em quê? Em todas as decisões, desde as relacionadas com a vida profissional de cada um, passando pela administração do dinheiro, pela escolha da casa onde moram e condições da mesma, pela forma como atuam com a família alargada e com os amigos, até ao modo como atuam na sua intimidade sexual. Em todas as decisões a tomar, é preciso o casal estar de acordo, e para tal precisam conhecer a opinião um do outro, conversando até conseguirem compreender o que cada um pensa e sente.

Também a responsabilidade de educar não é um ato solitário, tal como expressa Prov. 1: 8: “Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensino de tua mãe.” A comunicação do casal é essencial para que cada um deles possam fazer desta responsabilidade, um verdadeiro trabalho de equipa, pois como vemos a “instrução do pai” e o “ensino da mãe”, ambos são para ser ouvidos pelos filhos, e não fará sentido se não convergirem e ensinarem coisas opostas. Só dialogando, pai e mãe, podem chegar a entendimento sobre o que consideram importante na e para a educação de cada um dos seus filhos.

Principio 2 - Alinhamento (Auxílio):far-lhe-ei uma auxiliadora”- Para levar a bom porto esta tarefa de educar, confiada por Deus aos pais, estes têm de unir esforços em torno do mesmo objetivo. Ou seja, é preciso um alinhamento que leve à eficácia de tal tarefa, e isso passa indubitavelmente pela colaboração um com o outro.

A família é, por assim dizer, a oficina que Deus concebeu, onde cada ser humano deve ser, aos poucos, “construído”: é nela que se treinam hábitos e comportamentos, onde se ensinam valores e se molda o carácter humano. E este processo dá-se com cada elemento do casal, na sua relação um com o outro.

Provérbios 27: 17 diz: “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro”. A palavra “companheiro” significa “que anda junto”, “que está sempre ligado ao outro”. E Deus concebeu este tipo de relação entre um homem e uma mulher, devendo ser, portanto, a esposa, o maior companheiro do homem, e vice-versa. Por vezes este moldar a que se refere este provérbio, traz dor, o que faz parte do processo e é inevitável. Se repararmos na forma de afiar do ferro, eu diria que este sentisse, ser-lhe-ia decerto doloroso, o ser afiado. Tem de haver persistência e cuidado mútuo para que este processo ocorra da melhor forma, ainda que com alguma dor, por vezes, mas sem estrago. Deste modo, o casamento quando é enriquecido com a vinda dos filhos, necessita que pai e mãe ajam alinhados. Quando não há alinhamento na educação, isso torna-se visível na vida dos filhos. Um dos exemplos disto é encontrado em Génesis, desde o capítulo 24 ao 27, onde é contada a história da família de Isaque e Rebeca, e os seus gémeos, Esaú e Jacó. Por cada um ter um filho preferido e se ocupar mais com esse filho, o casal fica desalinhado nos objetivos de educação. Em resultado, ambos os filhos se tornam homens inseguros, tendo cada um, em si, maior influência do progenitor que o prefere (um, materna e outro paterna), espelhando esses desequilíbrios ao longo dos seus percursos, e tornando-se manipuladores e facilmente manipuláveis.

Prov. 13:24 diz: Quem se nega a disciplinar e repreender seu filho não o ama; quem o ama de fato não hesita em corrigi-lo”. A educação pressupõe também correção e tal não pode ocorrer na discórdia do casal. Quando um dos pais é muito corretivo e outro muito permissivo, diferindo nos pontos de vista, há que chegar a consenso. Não se deve retirar ao cônjuge a autoridade que está a exercer, chamando a atenção em frente do filho, mas procurar oportunamente o momento de conversa a sós, não de modo a criticar, mas aproveitando para se (re)alinharem quanto a decisões futuras. Um lar onde as direções se opõem, cria filhos que obedecem a quem mais lhes convém a cada momento, e aprendem a arte de bem manipular.

Principio 3- Idoneidade (Lealdade):que lhe seja idónea”- Deus criou a mulher como sendo idónea para com o seu marido. A idoneidade é uma caraterística ligada à honestidade, à aptidão para determinado cargo. É como se Deus tivesse dado à mulher o cargo de ser auxiliadora do homem e a tivesse capacitado para tal. Vejo a idoneidade como estando muito ligada à lealdade, já que esta é um princípio que contém em si valores de honestidade, fidelidade e sinceridade, os quais são base de qualquer aliança. Para que os filhos integrem os ensinamentos dos pais, é preciso, que estes se mantenham leais um ao outro, à aliança que estabeleceram, bem como aos valores que pretendem transmitir. Lançando novo olhar sob o exemplo de Isaque e Rebeca, (Gén. 24 até ao capitulo 27), percebemos que Isaque estava disposto a entregar a bênção da primogenitura a Esaú, e Rebeca, mulher determinada em que a benção da primogenitura fosse para Jacó, rompeu com a idoneidade, induzindo Jacó a enganar o próprio pai, sendo assim desleal para com o seu marido, e abdicando da transparência tão necessária entre marido e mulher.

Eclesiastes 4: 12 diz-nos: “E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa”. Assim, quando o casal mantém a lealdade um ao outro, não é vencido pelas circunstâncias, antes apoiam-se e defendem-se um ao outro e esta união viabiliza o melhor e mais rápido alcance dos objetivos traçados., sejam eles quais forem, incluindo os educativos.

Principio 4 União (Coesão): Gén. 2: 24 - “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”- A aliança entre marido e mulher implica uma proximidade tal, que nenhuma outra relação será mais próxima do que esta (nem sequer a relação entre pais e filhos). Ao contrário do que possa aparentar a expressão “tornando-se os dois uma só carne”, ela não expressa uma união puramente carnal, mas centra-se no estar juntos, estar com, priorizar um ao outro, estar coeso. Esta ideia é reforçada quando o casal é comparado a um organismo, no qual o marido é a cabeça e a sua mulher o corpo a ele ligado (ver Efésios 5:23). Deixaram, pois, de ser dois seres independentes, encontrando-se em intimidade profunda, e o tal moldar de que se falou anteriormente, trará cada vez maior coesão.

Alguns casais competem entre si, por variadíssimas coisas, e até pelo amor e admiração dos filhos, mas essa nunca foi a intenção de Deus, ao formar a família. O que Deus pretende é que o casal seja uma verdadeira equipa, coesa, que viabilize a coerência tão preciosa à educação dos seus filhos. Os filhos têm de saber que a postura dos pais é apenas uma, não se dividindo entre a postura do pai e a postura da mãe. O casal deixou de constituir dois, não se justificando a competição em prole dos seus interesses pessoais (querer agradar ou ficar “bem na fotografia”), mas passou a ser UM, numa união que existe (também) para o bem maior que é a educação dos filhos, segundo a vontade e instruções de Deus.

Acredito, pois que podemos aqui aplicar ao casal, a mesma exortação que foi feita à Igreja, em Filipenses 2:2-4 : Completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.”

Apenas a comunicação, aprofundada que leva à verdadeira intimidade o cuidado mútuo em lealdade absoluta e auxílio um ao outro, o alinhamento (também) no que se refere às decisões a tomar para com os filhos, em verdadeira união, permitirá criar filhos estáveis, e equilibrados, seguros do amor dos pais, e no percurso da vida.

Princípio básico - Deus no centro do casamento: Este é um princípio básico, como que um alicerce indispensável para qualquer cristão: Ao criar a mulher, Deus não deixou estar com o homem nem conversar com ele. Em Génesis 3 percebemos que Deus se manteve na vida de ambos (homem e mulher), e falava com eles. Assim, Deus deve manter-se na vida do casal, a qual precisa estar alicerçada na Palavra de Deus, estruturando, deste modo, a educação de seus filhos nos bons e eternos princípios desta Palavra.