“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”. (Mateus 6:24) Esta declaração de Jesus Cristo é factual, não é possível servir a dois senhores ao mesmo tempo.

Mamom é tudo o que representa o fascínio e o amor pelo poder, pelo dinheiro, pela grandeza, pelo luxo, pela fama e pelo controle. 

O senhor Mamom tem um evangelho próprio, uma doutrina com muitos fãs, seguidores, ricos e pobres adoram esta doutrina, é curioso que poucos são os que usufruem dos bens do Mamom, mas muitos lutam e buscam para os ter, assim sendo, quer os que têm quer os que não têm, adoram e seguem a doutrina do Mamom.

Este é o amor pelo mundo que nos afasta do amor de Deus, Jesus Cristo bem que nos alerta no seu Evangelho: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre”. (I João 2:15-17) 

Mas, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida é mais forte, é tão forte que invadiu e permanece em muitas igrejas e na vidas de muitos crentes, passou a ser o “outro evangelho”, mais amado, mais desejado, mais crido, no entanto a recompensa dele é a condenação eterna. 

Este senhor Mamom, é o senhor que nos faz trocar a nossa primogenitura por um prato de lentilhas, nos faz vender a alma. 

Ao longo destes 30 anos, vi o evangelho do Mamom a entrar nas igrejas com toda a força, ao inicio entra subtilmente, mas depois fica descarado e audaz ao ponto de ficar descontrolado. 

Algumas igrejas transformaram-se em casinos, onde se joga o jogo da “roleta” com Deus, outras transformaram-se em clubes de interesses e jogos de poder, onde se mistura Deus e a politica. 

O fascínio de ser “grande” é o que está a matar a igreja no modo geral. 

As comparações, o ciúme e a inveja surgem da raiz da concupiscência dos olhos e da soberba, são os ajudantes do senhor Mamom. 

Lembro-me como se fosse hoje, a igreja Maná inicia parcerias com a igreja Renascer em Cristo no Brasil, visitas mutuas dos seus líderes, deram a origem ao: “se ele tem, nós também temos de ter...Se ele é apostolo, eu também tenho de ser...Se ele tem um prédio inteiro só para a administração, nós também temos de ter um prédio grande, que traga glória para Deus.” Ou contrário foi: “Se ele tem um avião, eu também tenho de ter, Se ele tem uma mansão, eu também tenho de ter...” Começaram as compras de prédios caros, aquisição de carros de luxo para a liderança, viagens e aquisição de aviões de luxo, alugueres de helicópteros, Mercedes de top no Brasil e em Portugal, tudo tinha uma “base bíblica”: “Deus nos quer prósperos, só assim podemos trazer glória a Deus”.

Como se Deus necessita-se de ajuda para provar que ele existe.

No entanto, as aquisições são usadas como troféu, para provar a força do ministério, a suposta glória de Deus sobre o ministério, para que o povo da igreja saiba, que Deus está connosco! 

Faz lembrar as conquistas dos antigos Imperadores, Ditadores e Czares, o espírito é o mesmo:  “a glória do império, a glória da nação, os nacionalismos, os patriotismos, as conquistas, a grandeza das riquezas são a prova que validam os actos de quem lidera”

A maioria das pessoas gostam disto, é a concupiscência dos olhos e da soberba a trabalhar em ricos e em pobres. É por isso, que igrejas deste género, ou que se tornaram assim, têm muitos seguidores, porque estes discursos e estes troféus fascina! No intimo, todos queremos este senhor Mamom. 

O evangelho de Mamom é muito tentador e aliciante, em contraste com o Evangelho de Jesus Cristo, o de Jesus Cristo é bem mais aborrecido, pois diz: “Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva;” (Mateus 20:26)   

Isso é aborrecido demais, isso não dá dinheiro, isso não dá poder, o quê? “servir para ser grande? Lavar os pés aos outros para ser grande? Isso não é para mim, tenho que dar um geito...” 

Sabem que mais? os discípulos do evangelho de Mamom deram mesmo um geito, e como? 

Têm conseguido convencer os ouvintes: “Para ser grande temos de Servir”. Servir a quem? Servir a igreja, servir o homem de Deus, dar para a igreja, dar para o homem de Deus ir mais longe. Distorcem o Evangelho de Jesus Cristo e como a maioria sofre deste olhar soberbo, então: “vamos lá fazer, pois também eu quero ser grande!”. A partir daqui, toda a hermenêutica das pregações, são montadas, não na pessoa de Jesus Cristo e seu Evangelho, mas na pessoa do apostolo fulano de tal, na grandeza que ele tem, na glória que trazemos a Deus por sermos grandes e termos conquistado tantas nações, igrejas, prédios, carros, canais de tv e rádio, etc. 

O glamour da grandeza é grande, hoje, com muito tristeza minha, verifico que também andei assim, bêbado deste glamour, ficamos viciados, gostamos da adrenalina da grandeza, dos alvos, das conquistas, do trabalho que fazemos, que provavelmente nunca o faríamos em outro lugar, do poder de compra sem que tenhamos de ter fé. Só que, entretanto, a nossa consciência começa a ser vendida, como quem vende o seu corpo na prostituição, chegamos a casa e começamos a não suportar a pessoa que olhamos no espelho. Foi assim, que comecei a sentir-me, eu prostituía a minha consciência todos os dias , a violava, porque não tinha a coragem de parar e dizer chega, este não é o Evangelho de Jesus Cristo que conheci, vendia-me por um prato de lentilhas. 

Dou graças a Deus, porque certo dia, em casa, à noite, fui visitado por uma voz que vinha no meu interior, essa voz era a minha consciência a dizer: “Basta, não aguento mais”. Nessa mesma noite tomei a decisão e escrevi a minha carta de demissão, no dia seguinte fui entregá-la por mãos próprias e enviei uma cópia dessa mesma carta, registada com aviso de recepção. Acabou, Não quero mais viver assim, este evangelho do Mamom tem um preço alto e difícil de suportar o pagamento. Disse para mim mesmo: “nem que coma apenas, um prato de sopa todos os dias, é bem melhor.” 

Não me orgulho de algumas coisas que fiz, mas orgulho-me de ter tido a coragem de sair, pois, hoje, olho para o espelho e gosto do que vejo, estou mais velho, este ano faço 50 anos, mas muito mais jovem no meu interior e livre. Hoje eu sei, que o Senhor da minha vida, é Cristo e o seu Evangelho! 

É claro que todos precisamos de dinheiro, mas o dinheiro deixou de ser um fim, o dinheiro e os bens, Deus nos dá como ele bem entende, “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o resto vos será acrescentado”. Deus sabe o que nós precisamos, ele promete suprir as nossas necessidades, ele nunca prometeu suprir os nossos luxos e lutas de poder. 

O meu desejo é que todos possamos escolher andar no Evangelho de Jesus Cristo, pois é impossível servir dois senhores.

 

Memórias de 30 anos de Evangelho – José Fidalgo

25/01/2020