Abraão e Sara (cujos nomes originais eram Abrão e Sarai) trazem-nos uma história com caraterísticas tão humanas, que nela ficam reveladas a fraqueza, as dúvidas e os medos inerentes a cada pessoa. Mas, independentemente dos erros que eles cometeram (como todos os humanos cometem), a sua história de vida permite-nos uma aprendizagem extraordinária para aplicar nos relacionamentos nas nossas famílias. Encontramos a história desta família a partir de Gen.11:29.

Limitações Humanas não são limites para Deus

Em Gen.15:1-6 podemos ver que Abrão, não tendo filhos, falava com Deus, dizendo que consideraria seu herdeiro o seu mordomo, por ter nascido na sua casa. Mas Deus respondeu, dizendo: (vers. 4) “(…) Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de ti será gerado, esse será teu herdeiro.” Portanto, Abrão teve promessa de Deus sobre a sua descendência, mas nem ele nem Sarai compreenderam totalmente que Deus é Deus, poderoso para criar essa descendência de ambos, sem recorrer a estratégias humanas. Os olhos deles só viam a esterilidade de Sarai e com o passar do tempo, essa esterilidade aliada à velhice. Assim somos nós, seres humanos, que quando encontramos uma limitação, uma esterilidade, temos, tal como eles, dificuldade, em ver além dessa limitação.

Uma esterilidade é obstáculo ao desabrochar de algo e isso pode ser aplicável a um filho, como era o caso de Sarai e Abrão, ou a qualquer mudança necessária dentro da família e até mesmo dentro de cada um dos seres que a compõem. Mas Deus não olhou para a limitação de Abrão e Sarai, antes via o Seu plano para eles. E é assim que ainda hoje Deus, o Deus que não muda, é para connosco. Para Ele não há limitação ao Seu plano para as nossas vidas, à Sua promessa e à Sua vontade. Para o nosso Deus não há esterilidade que não possa ser transformada em fruto bom e abundante.

Abrão e Sarai tiveram um plano secundário, que envolveu Agar (a serva de Sarai), porque a seus olhos, o útero de Sarai jamais venceria a esterilidade. Podemos ver em Gen.16:2, que Sarai disse a Abrão que tivesse filhos com Agar, porque ela não conseguia dar-lhos. Mas Deus tinha uma promessa que, como Deus Fiel que é, não deixaria de cumprir, e que reiterou junto de Abrão, mudando-lhe o nome para Abraão (“pai de uma multidão”), e sendo muito específico, como vemos em Gén.17:15-16: “(…) a Sarai, tua mulher, não chamarás mais pelo nome de Sarai, mas Sara (que significa princesa) será o seu nome. Porque eu a hei de abençoar e te hei de dar a ti dela um filho (…)”. E apesar de estéril e até já muito velha, Sarai concebeu, de Abrão, nascendo Isaac: O filho da promessa.

Alinhando pensamentos e criando visão

Apesar de Abrão e Sarai terem criado o seu próprio plano, baseados numa promessa que Deus lhes deu, Deus tinha o Seu plano, e foi esse que prevaleceu, derrubando toda a limitação humana. Mas foi importante levar Abrão a pensar como Deus, alinhando os pensamentos com os d´Ele. Por isso, Deus levou Abrão a olhar para as estrelas e contá-las como sua geração, como descrito em Gén. 15:5: “Então, o levou fora e disse: Olha, agora, para os céus e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua semente”. O que Deus fez foi conduzir Abrão a criar a visão que Deus já tinha, a levantar a cabeça e ver além do que os olhos humanos viam.

Os seres humanos têm muitas limitações, mas elas não fazem com que Deus deixe de agir nas suas vidas. Deus suplanta limitações, quer as de Abrão e Sarai, quer as minhas ou as suas. O que precisamos para cooperar com Deus, no Seu plano para as nossas vidas, é alinhar a nossa visão com a d´Ele.

Intenções não impedem atos de ter consequências

Em Génesis 12:11-13 lemos: “E aconteceu que chegando ele para entrar no Egipto, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher formosa à vista; e será que quando os egípcios te virem, dirão: Esta é a sua mulher. E matar-me-ão a mim e a ti te guardarão com vida. Diz, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e que viva a minha alma por amor de ti.” Ora, Abrão pediu a Sarai que mentisse. Tal pedido teve origem no medo, em querer proteger-se a si próprio, pois receou que o Faraó quisesse tanto a Sarai (por ela ser uma bela mulher) que o matasse. Por algum tempo, Abrão beneficiou até desta mentira (vers. 16:” E fez bem a Abrão por amor dela; e ele teve ovelhas, e vacas, e jumentos, e servos, e servas, e jumentas, e camelos.”) Mas a sua mentira teve consequências (vers. 17:” Feriu, porém, o Senhor a Faraó com grandes pragas e a sua casa, por causa de Sarai, mulher de Abrão”). Reparemos que apesar do Faraó desconhecer que Sarai era casada com Abrão, as consequências atingiram na mesma o Faraó. Por vezes, pensamos que quando agimos na ignorância, somos protegidos das consequências, mas a verdade é que a consequência do ato tem lugar quer entendamos ou não o ato que estamos a cometer. Quando o Faraó percebeu o que se passava, ficou chocado e acabou por mandar embora Abrão e Sarai, e todos os seus pertences (ver vers. 18-20).

A integridade:  importante valor para Deus

Abraão poderia ter aprendido esta lição e não voltar a agir da mesma forma. Todavia, em Génesis 20, ele voltou a agir de igual modo, apresentando Sara, ao rei Abimeleque, como sua irmã. Na verdade, ele usa uma meia verdade, pois Sara era irmã de Abraão apenas por parte do pai (Gen 20:12: “Além disso, na verdade ela é minha irmã por parte de pai, mas não por parte de mãe; e veio a ser minha mulher”.). Mas foi mais uma vez por medo e para se proteger, que Abraão não foi absolutamente íntegro, ocultando a verdade. 

No entanto, ele tinha tido uma advertência entre uma e outra vez em que isto sucedeu, pois em Gén. 17: 1, Deus advertiu-o, demonstrando a importância da integridade, ao dizer: "Eu sou o Deus todo-poderoso; ande segundo a minha vontade ­e seja íntegro “.

Integridade significa honestidade, retidão, honradez, incorruptibilidade. Algumas traduções bíblicas, utilizam a expressão “perfeito” em vez de “íntegro”, o que significa “ideal”, “excelente”, “sem defeito, erro ou desvio. E mentir, dizer apenas meias verdades por conveniência, e levar outros a mentir, mesmo que para se proteger não é nem reto, nem honesto, nem excelente, nem tão pouco nem sinónimo de incorruptibilidade. Também não é andar segundo a vontade de Deus, uma vez que a Bíblia diz que Deus abomina a mentira e que o pai da mentira é o diabo. Aliás, Abrão agiu de modo egoísta, expondo-se a ele mesmo ao pecado da mentira, ao Faraó e ao rei Abimeleque a um pecado que eles próprios não sabiam estar a cometer (adultério), e expondo a própria Sarai também a tal.

Nesta segunda situação, podemos ver em Gen. 20:3-18, que mais uma vez houve consequências (vers. 18:” O Senhor havia fechado totalmente todas as madres da casa de Abimeleque, por causa de Sarah, mulher de Abraão.”), mas Deus atentou para o coração de Abimeleque e avisou-o em sonhos, impedindo que se deitasse com ela, e dando-lhe oportunidade de corrigir atempadamente o erro (ver vers.3-7).

Na família, a integridade tem de ser um princípio inegociável. Todos os elementos têm de ser retos uns para com os outros e proteger uns aos outros, não expondo uns para encobrir outros. A integridade tem de ser marca dentro da família.

Proteção e Cuidado

Há quem considere família apenas o casal e os filhos, e na realidade, essa é a mais chegada, a principal, aquela sobre a qual se tem uma responsabilidade mais direta, e em termos relacionais, espera-se uma maior proximidade, intimidade. Mas há uma responsabilidade de relacionamento com a restante família. Com Abrão aprendemos algo sobre isto: Em Génesis 13, Abrão separa-se de Ló (seu sobrinho) para que terminem as dissensões entre as gentes de um e de outro, pois a terra onde estavam já não respondia às necessidades de ambos. Neste contexto, Abrão, como tio, dá prioridade a Ló, seu sobrinho, na escolha da melhor terra para viver. Assim, ele protege o seu sobrinho, sacrificando a sua vontade em prole de ele escolher para si o que considerasse melhor. Isto é dar primazia ao outro, princípio muito importante no cuidado dentro da família. E esse princípio, Deus honra. Abrão, tendo ficado com a suposta “pior” terra, acabou por ter o lugar mais abençoado e frutífero.

Mais tarde, quando Ló é atacado e feito refém, Abrão não ignora a situação, não acha que nada tem a ver com o assunto, mas vai em socorro de Ló. Eles estavam longe um do outro, provavelmente não estavam em contacto com muita frequência, mas Abrão não perdeu o sentido de família e o laço afetivo que o unia ao seu sobrinho manteve-se bem atado, e por isso, não fechou os olhos à situação. Este é o papel da família: Olhar pelos seus!

Já em Génesis 18, Abraão (agora já com os nomes, tanto ele quanto Sara, mudados), “negoceia“com Deus para que Sodoma não seja destruída sem que Ló seja poupado. Á distância, ele continua a cuidar do seu sobrinho, intercedendo por ele junto de Deus e procurando protegê-lo. Em Gén. 19:27-29, Abraão vai novamente buscar Ló após a destruição de Sodoma e Gomorra, apoiando-o no seu recomeço.

Abrão tinha o seu núcleo familiar e Ló tinha o seu próprio também. Mas eles mantiveram os laços familiares e deram-lhe o verdadeiro significado.

Reverenciar Deus no local onde estamos

Abrão e Sarai não eram perfeitos e mesmo depois de Deus ter alterado os seus nomes para Abraão e Sarah, chamando-lhes assim “pai de uma multidão” e “princesa”, eles continuaram a ser imperfeitos.  E não eram perfeitos nem enquanto homem e mulher, nem enquanto casal. No entanto, se lermos atentamente, verificamos que Abrão tinha sempre o cuidado de edificar altares a Deus, onde quer que chegasse, e invocar o nome do Senhor.  Podemos ver em Gén. 12:7, também no capítulo 13, vers. 4 e vers.18 que Abrão podia errar em muitas coisas, mas uma coisa era certa: todos podiam ver quem era o seu Deus. Ele não escondia o amor que tinha por Deus, e prestava-lhe culto, e adorava-O, levantando altares. Ele assumia a sua relação com Deus, não sendo uma relação “secreta”, mas estando à vista dos que quisessem ver. E Deus, não olhava à imperfeição de Abrão, não fazia dos seus erros, cavalo de batalha na relação de ambos; Corrigia-o, mas olhava, sim, aos atos de amor que ele tinha para com Deus. E assim, Deus abençoou-o e honrou-o.

Deus tem de estar na vida de cada cristão e de cada família, de modo tão visível como esses altares que Abraão levantava. As falhas, Deus moldará e corrigirá pela Sua Palavra, como fez com Abrão ao adverti-lo a ser integro.

Deus sempre honrará o homem e a família que O honra.